19 de maio de 2011

A delícia e a dor de amamentar

Depois de um tempo a gente vê o passado com os óculos cor-de-rosa da nostalgia. Eu sempre falo bem da amamentação, o tanto é que gostoso esse momento com o bebê, o quanto é prático tirar o peito pra fora e saciar a criança, a delícia que é alimentar o próprio filho e etc. Mas quem lê pode pensar que foi sempre tudo perfeito para mim. Hoje, eu estava me lembrando, como se tivesse sido num tempo beeem distante, as dificuldades que tive.
No comecinho, o bico do peito racha e fica bem sensível. Para aliviar, eu tomava sol sem sutiã e usava aquelas conchas de silicone para o peito não tocar na blusa. Até o primeiro mês, os vazamentos eram constantes eu não podia dormir sem acordar encharcada. E tinha a dificuldade de encontrar a melhor posição para dar de mamar. Ato natural que nada! É uma posição muito pensada, caso contrário as costas doem miseravelmente.
Mas tudo isso é fichinha perto da complicação que era trabalhar e amamentar exclusivamente. Eu só fiquei sem trabalhar o primeiro mês da vida do Téo. Eu dava aulas numa faculdade em Taguatinga, bem longe da minha casa, antes de passar para o doutorado na UnB. Para poder dar prioridade à minha pesquisa, sem ficar fora da sala de aula, precisava trabalhar numa faculdade no Plano Piloto, com uma carga horária menor.
Eu consegui ser chamada em duas boas faculdades do Plano, mas justamente quando já estava grávida. Não preciso nem dizer que os departamentos de RH não quiseram contratar uma gestante, né... Mesmo os coordenadores de ambas não vendo problema nenhum, o setor responsável pelo pagamento nunca quer uma funcionária nesse “estado”, logicamente.
No final de julho do ano passado, fui chamada para dar uma disciplina que eu adoro, numa das melhores faculdades da cidade, e a mais próxima da minha casa! Perfeito, né?! Mais ou menos. Profissionalmente, era tudo que eu queria mesmo. Mas Téo não tinha nem um mês de vida e eu tinha acabado de descobrir o hemangioma dele.
Com ele tomando altas doses de corticóide, a vacinação teve que ser atrasada. Para meu filhinho, a amamentação passou a ser mais importante ainda: meu leite era a única defesa dele mesmo. Então, eu decidi partir para o desafio de amamentar exclusivamente, e dar aula na quinta à noite e na sexta de manhã.
Tirar o leite era a primeira parte da “novela”. Ele mamava praticamente de duas em duas horas durante o dia. Então, eu tinha que tirar o leite à noite, quando o intervalo era maior. Lavava braços, mãos, seios. Esterilizava o copinho, sentava numa mesa forrada com pano limpo, de touca no cabelo e uma fralda amarrada na frente da boca e do nariz. E passava uma hora tirando leite. Às vezes, terminava todo o processo depois de 1h da manhã! O horário de sono que eu tinha, eu passava tirando o leite para congelar.
Pensa que acabou aí a dificuldade? Nãnãninãnão! Aí eu o deixava na casa dos meus pais. A Camila esquentava o leite congelado em banho maria, meu pai segurava Téo no colo e ela ia dando de copinho! Eles terminavam encharcados com o leite, o meu leite! Rsrsrs... O bebê cuspia quase tudo, mas dava para matar a fome até eu chegar. Eu chegava lá pelas 23h e ia para casa com ele. Tinha que tirar o pequenino do berço da casa dos meus pais para levá-lo pra minha casa. Morria de dó.
Chegando lá, dava de mamar de novo, e lá pela 1h da manhã ia dormir. Às 3h, ele mamava de novo e às 6h eu acordava para me arrumar para a aula da manhã. Ele mamava de novo perto das 7h e lá ia eu. Na hora do intervalo da aula, Yuri levava Téo até a faculdade e eu ia escondidinha até o carro para dar de mamar. Não dava para ele dar o leite de copinho, porque a logística era complicada e exigia alguém para segurar o bebê.
Ficava com uma peninha do Téo, porque quando acabavam os 20 minutinhos do intervalo tinha que tirar ele do peito. Só dava para forrar a barriguinha... E os meus alunos sem saber de nada dessas minhas aventuras! Dava a hora do intervalo e eu saía “fugida” para que ninguém viesse falar comigo, diminuindo ainda mais o “lanche” do Téo. Na hora da saída, eu também torcia para ninguém querer esticar a aula, porque sabia que tinha um bebê chorão à minha espera. Isso era muito chato, porque eu gosto de dar aula, de conversar com os alunos depois da aula para tirar dúvidas e etc... Mas não dava! Téo não entendia isso.
Uns dois meses depois, adotamos a mamadeira. Era mais fácil. Ninguém ficava sujo de leite materno (ecati!), o leite rendia mais, porque Téo não babava ele todo, e Yuri podia dar o leite sozinho, sem ter que ir até o meu trabalho. Quando ficou assim, tudo parecia um mar de rosas!!! E melhorou ainda mais perto do sexto mês, porque ele aguentava esperar eu chegar da aula. Aí eu estava no paraíso!
Aos nove meses e meio, quando ele parou de mamar no peito, a coisa toda ficou inacreditavelmente fácil. Hoje, eu vou para a UnB ou dar aula sem me preocupar. No comecinho, eu saía de casa muito triste, chorava o caminho inteiro. Agora, eu saio para meus compromissos tranquila, feliz. É uma diferença e tanto! E acredita que eu ainda fico falando por aí que amamentar é uma coisa muito fácil?!? Rsrsrs...

2 comentários:

  1. É, amiga, cada mãe com seus perrengues. Só mães e bons pais pra entender o tanto que gostamos gosta dessa vida maluca, né? Beijos pra vcs!

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  2. Nossa, nem lembrava mais disso!! Era muito fofo ele tomar leite no copo, mas dava mto trabalho!!! hehe

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